- Besouro Mangangá capoeirista baiano do século XIX, imortalizado nas músicas da capoeira. Manuel Henrique Pereira (1895 — 1924), conhecido como Besouro Mangangá ou Besouro Cordão de Ouro foi um lendário capoeirista da região de Santo Amaro da Purificação, na Bahia.
A palavra capoeirista assombrava homens e mulheres, mas o velho escravo Tio Alípio nutria grande admiração pelo filho de João Grosso e Maria Haifa. Era o menino Manoel Henrique que, desde cedo aprendeu, com o Mestre Alípio, os segredos da Capoeira na Rua do Trapiche de Baixo, em Santo Amaro da Purificação, sendo batizado com Besouro Mangangá por causa da sua flexibilidade e facilidade de desaparecer quando a hora era para tal.
Muitos e grandiosos feitos lhe são atribuídos. Diziam que não gostava da polícia (que diversas vezes frustrou-se ao tentar prendê-lo), que tinha o "corpo fechado" e que balas e punhais não podiam feri-lo. Certa época, quando Besouro trabalhou numa usina, por não receber o ordenado, segurou o patrão pelo cavanhaque e o obrigou a pagar o que lhe devia.
As circunstâncias de sua morte são contraditórias. Há versões que afirmam que Besouro morreu em um confronto com a polícia; outras, que foi traído, com um ataque de faca pelas costas. Esta última é muito cantada e transmitida oralmente na capoeira. Um fazendeiro, conhecido por Dr. Zeca, após seu filho Memeu apanhar de Besouro, armou uma cilada, mandando-o entregar um bilhete a um amigo que administrava a fazenda Maracangalha. Tal bilhete pedia para que seu portador fosse morto. Besouro, analfabeto, não pôde ler que aquele bilhete era endereçado ao seu assassino e que esclarecia que o portador era a vítima, ou seja, ele próprio. Assim, no dia seguinte, ao voltar para saber a resposta, 40 soldados o estavam esperando. Um homem conhecido por Eusébio de Quibaca acertou-lhe nas costas uma faca de tucum (ou ticum), um tipo de madeira, tida como a única arma capaz de matar um homem de Corpo Fechado.
Era um negro forte e de espírito aventureiro, nunca trabalhou em um lugar fixo nem teve uma profissão definida.
Cadê o Besouro
Canção muito conhecida na capoeira
- Besouro Mangangá era homem de corpo fechado
- Bala não matava e navalha não lhe feria
- Sentado ao pé da cruz enquanto a polícia o seguia
- Desapareceu enquanto o tenente dizia
- Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro
- Besouro era um homem que admirava a valentia
- Não aceitava a covardia Maldade não admitia
- Com a traição quebrou-se a feitiçaria
- Mas a reza forte só Besouro quem sabia
- Cadê o Besouro Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro
- Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro
- Atrás de Besouro, o tenente mandou a cavalaria
- No estado da Bahia
- E Besouro não sabia
- Já de corpo aberto,
- Fez sua feitiçaria
- Cada golpe de Besouro Era um homem que caia
- Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro Chamado Cordão de Ouro
- Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro
- Cadê o Besouro
- Chamado Cordão de Ouro
Hoje Besouro é conhecido como Cordão de Ouro, o exu das sete encruzilhadas, ele está presente nos terreiros de umbanda onde incorpora em mediuns. Besouro quando chega no terreiro senta-se no chão em Posição de lótus. Besouro quando vem trabalhar não gosta muito de conversar e gira nos seus protegidos calados. Geralmente é muito sério e sua palavra é a final.
- Manduca da Praia temido capoeirista no Rio de Janeiro do século XIX.
Manduca da Praia viveu por volta de 1850 no Rio de Janeiro, época em que os capoeiristas faziam parte das maltas, as duas principais eram os Nagôs e os Guaiamus.
Manduca não estava em nenhuma delas, pois era tinha uma banca de peixe e fazia segurança de pessoas ilustres e achava que atrapalharia seus negócios. Durante um desafio de briga de rua sagrou-se campeão, era temido por policiais e capoeiristas.
- Mestre Waldemar foi alvo de vários estudos acadêmicos durante os anos 1950, inventor das ladainhas.
A vida de Waldemar como capoeirista e mestre de capoeira começa na década de 1940, onde ele implanta um barracão na invasão do Corta-Braço, futuro bairro da Liberdade, onde joga-se capoeira todos os domingos, também ensinando na rampa do mercado na cidade baixa. Praticava uma diversidade de capoeira, dos mais lentos aos mais combativos, com afirmada preferência para os mais lentos[1].
Durante a década de 1950, a capoeira dele na Liberdade atrai acadêmicos, artistas e jornalistas. Os etnólogos Anthony Leeds em 1950 e Simone Dreyfus em 1955 gravam o som dos berimbaus. O escultor Mário Cravo e o pintor Carybé, também capoeiristas, freqüentam o barracão. Mais tarde, a maior parte dos renomados capoeiristas afirmam ter grande influência na capoeira de Waldemar, na de Mestre Cobrinha Verde do bairro de Nordeste de Amaralina até na de Mestre Bimba.
De acordo com Albano Marinho de Oliveira (1956), o grupo da Liberdade começou a cantar longos solos antes do jogo (hoje chamados ladainhas). O próprio Waldemar reivindicou, em depoimento a Kay Shaffer, ter inventado de pintar o berimbau. A fabricação e venda para os turistas de berimbau foi uma fonte de renda para mestre Waldemar.
Waldemar, como bom capoeirista, andou na sombra. Ficou discreto sobre suas atividades e breve em sua fala. Mal existem fotos dele antes de velho. Não procurou a fama e, apesar de seu notado talento de cantor e de tocador de berimbau, não integrou muito o mercado de espetáculo turístico. Também, a música que se escuta nas gravações de 1950 e 1955 é coletiva, sempre tendo, ao menos, um dialogo de dois berimbaus.
Velho e impossibilitado de jogar capoeira e de tocar berimbau pela doença de Parkinson, Waldemar ainda aproveitou um pouco do movimento de resgate das tradições dos anos 1980, cantando em diversas ocasiões e gravando CD com Mestre Canjiquinha.
Na Bahia existem um bairro e uma rua que recebem seu nome.
Vicente Joaquim Ferreira Pastinha (Salvador, 5 de abril de 1889 — Salvador, 13 de novembro de 1981), foi um dos principais mestres de Capoeira da história.
Mais conhecido por Mestre Pastinha, nascido em 1889 dizia não ter aprendido a Capoeira em escola, mas "com a sorte". Afinal, foi o destino o responsável pela iniciação do pequeno Pastinha no jogo, ainda garoto. Em depoimento prestado no ano de 1967, no 'Museu da Imagem e do Som', Mestre Pastinha relatou a história da sua vida: "Quando eu tinha uns dez anos - eu era franzininho - um outro menino mais taludo do que eu tornou-se meu rival. Era só eu sair para a rua - ir na venda fazer compra, por exemplo - e a gente se pegava em briga. Só sei que acabava apanhando dele, sempre. Então eu ia chorar escondido de vergonha e de tristeza." A vida iria dar ao moleque Pastinha a oportunidade de um aprendizado que marcaria todos os anos da sua longa existência.
"Um dia, da janela de sua casa, um velho africano assistiu a uma briga da gente. Vem cá, meu filho, ele me disse, vendo que eu chorava de raiva depois de apanhar. Você não pode com ele, sabe, porque ele é maior e tem mais idade. O tempo que você perde empinando raia vem aqui no meu cazuá que vou lhe ensinar coisa de muita valia. Foi isso que o velho me disse e eu fui". Começou então a formação do mestre que dedicaria sua vida à transferência do legado da Cultura Africana a muitas gerações. Segundo ele, a partir deste momento, o aprendizado se dava a cada dia, até que aprendeu tudo. Além das técnicas, muito mais lhe foi ensinado por Benedito, o africano seu professor. "Ele costumava dizer: não provoque, menino, vai botando devagarinho ele sabedor do que você sabe (…). Na última vez que o menino me atacou fiz ele sabedor com um só golpe do que eu era capaz. E acabou-se meu rival, o menino ficou até meu amigo de admiração e respeito."
Foi na atividade do ensino da Capoeira que Pastinha se distinguiu. Ao longo dos anos, a competência maior foi demonstrada no seu talento como pensador sobre o jogo da Capoeira e na capacidade de comunicar-se. Os conceitos do mestre Pastinha formaram seguidores em todo Brasil. A originalidade do método de ensino, a prática do jogo enquanto expressão artística formaram uma escola que privilegia o trabalho físico e mental para que o talento se expanda em criatividade. Foi o maior propagador da Capoeira Angola, modalidade "tradicional" do esporte no Brasil.
Em 1941, fundou a primeira escola de capoeira legalizada pelo governo baiano, o Centro Esportivo de Capoeira Angola (CECA), no Largo do Pelourinho, na Bahia. Hoje, o local que era a sede de sua academia é um restaurante do Senai.
Em 1966, integrou a comitiva brasileira ao primeiro Festival Mundial de Arte Negra no Senegal, e foi um dos destaques do evento. Contra a violência, o Mestre Pastinha transformou a capoeira em arte. Em 1965, publicou o livro Capoeira Angola, em que defendia a natureza desportista e não-violenta do jogo.
Entre seus alunos estão Mestres como João Grande, João Pequeno, Curió, Bola Sete (Presidente da Associação Brasileira de Capoeira Angola), entre muitos outros que ainda estão em plena atividade. Sua escola ganhou notoriedade com o tempo, frequentada por personalidades como Jorge Amado, Mário Cravo e Carybé, cantada por Caetano Veloso no disco Transa (1972). Apesar da fama, o "velho Mestre" terminou seus dias esquecido. Expulso do Pelourinho em 1973 pela prefeitura, sofreu dois derrames seguidos, que o deixaram cego e indefeso. Morreu aos 93 anos.
Vicente Ferreira Pastinha morreu no ano de 1981. Durante décadas dedicou-se ao ensino da Capoeira. Mesmo completamente cego, não deixava seus discípulos. E continua vivo nos capoeiras, nas rodas, nas cantigas, no jogo. "Tudo o que eu penso da Capoeira, um dia escrevi naquele quadro que está na porta da Academia. Em cima, só estas três palavras: Angola, capoeira, mãe. E embaixo, o pensamento:
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- "Mandinga de escravo em ânsia de liberdade, seu princípio não tem método e seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista."
- Manoel dos Reis Machado, também conhecido como Mestre Bimba (Salvador, 23 de Novembro de 1900 - Goiânia, 15 de Fevereiro de 1974), foi criador da Luta Regional Baiana, mais tarde chamada de capoeira regional.
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Ao perceber que a capoeira estava perdendo seu valor cultural e enfraquecendo enquanto luta, Mestre Bimba misturou a capoeira de Angola com o batuque[1] (luta do Nordeste Brasileiro extinta com o passar do tempo) criando assim um novo estilo de luta com praticidade na vida, com movimentos mais rápidos e acompanhada de música[1]. Assim conquistou todas as classes da sociedade. Foi um eximio lutador e acima de tudo um grande educador, foi o responsavel por tirar a capoeira da marginalidade. Praticantes dessa arte se denominam "capoeira", pois, para eles, a capoeira é um estilo de vida - ser, pensar, agir como um capoeira.
Bimba empunhava regras para os praticantes da capoeira regional, sendo elas:
- Não beber, e não fumar. Pois os mesmos alteravam o desempenho e a consciência do capoeira.
- Evitar demonstrações de todas as técnicas, pois a surpresa é a principal arma dessa arte.
- Praticar os fundamentos todos os dias.
- Não dispersar durante as aulas.
- Manter o corpo relaxado e o mais próximo do seu adversário possível, pois dessa forma o capoeira desenvolveria mais.
- Sempre ter boas notas na escola.
No vídeo Relíquias da Capoeira - Depoimento do Mestre Bimba, um documento audiovisual em VHS produzido por Bruno Farias, o próprio Manuel comenta sobre os motivos que o fizeram se mudar para Goiânia, onde ele conseguiu mais apoio financeiro[1]. Posteriormente, em uma reunião de especialistas em capoeira no Rio de Janeiro, explica-se mais sobre o nome do esporte, sobre a criação da capoeira regional e sobre esse lendário personagem chamado Mestre Bimba.
A versão original do vídeo, veiculada em 2006 pela extinta PAM TV Florianópolis (Antigo canal 17 da TVA), acabou se extraviando. Porém, recentemente, o jornalista Bruno Farias encontrou no antigo acervo da emissora uma amostra de 2 minutos do Relíquias da Capoeira: Depoimento do Mestre Bimba e escreveu uma matéria sobre o assunto, publicada no site da Revista de História da Biblioteca Nacional, junto à referida amostra